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O causo do mocinho deprimido

Daniela e Mario estavam saindo há 9 meses. Quando estavam juntos, tudo era farra, tudo era lindo e extremamente divertido.
Todo final de semana faziam a mesma maratona: aos sábados iam ao cinema, exposições e, mais pro fim da noite, saiam para dançar.
No domingo acordavam tarde, transavam sem nenhuma pressa e, mais tarde, iam caminhar no parque, juntinhos e de mãos dadas. Adoravam a companhia um do outro. Além da química entre os dois, Daniela admirava o senso de humor e a inteligência dele assim como ele admirava a determinação profissional e o jeito meigo dela.
Acontece que um dia, sem mais nem menos, Mario perdeu o emprego. E de uma hora para outra, ele mudou.
Mario não gostava mais de cinema porque achava todos os filmes tristes. Não queria mais ir a exposições porque o ingresso era caro. Sair para dançar ou andar no parque então, nem pensar. E a depressão era tanta que ele não tinha forças nem para procurar trabalho.
Daniela se oferecia para pagar as entradas das exposições e tentava animá-lo de todas as maneiras que conhecia, dentro e fora do quarto, mas nada adiantava.
Depois de um tempo, ela cansou. Por mais que fizesse de tudo para estar com ele e apoiá-lo, aquela vida de passar a semana jogada no sofá sentindo pena de si mesma não era de jeito nenhum o futuro que ela havia idealizado.

“Meu Deus, como posso acabar com o Mario? Ele sempre foi ótimo comigo, a gente sempre se deu bem. Será que eu vou ser um monstro se deixá-lo num momento tão difícil? Como eu posso dar um fora nele sem sentir culpa?”.
Depois de fazer essa mesma pergunta a 5 amigas, a mãe, a terapeuta e as tias sem nenhuma resposta, Dani teve uma ideia. Colocou sua melhor roupa, seu melhor perfume, sua melhor lingerie e foi até a casa de Mario numa sexta-feira a noite, alegando que precisava conversar.

“Amor, sabe o que acontece? Eu andei pensando muito na gente. Faz um tempo que estamos juntos e nós nunca, jamais falamos em ter algo mais sério. Então eu vim até aqui dizer que eu queria muito casar, ter filhos… 2 crianças com os seus olhos e o meu nariz. Nossa, passo horas imaginando eu de noiva e você, só me olhando entrar na igreja, emocionado. Não ia ser incrível? A gente se gosta tanto, né? Tem tudo pra dar certo! Ah, e eu já resolvi que as crianças vão estudar no colégio bilingue porque assim elas vão ter mais chances na vida. A mensalidade é um pouco cara, uns 2.500 para cada uma, mas a gente se aperta e paga. E acho que também seria bom a gente começar a procurar um carro maior, tipo um utilitário. No seu Mini Coper não vai caber o Dioguinho, a Clarinha e a babá. Gostou dos nomes que eu escolhi? Lindos, não acha? E só uma última coisa: a gente precisa começar a procurar apartamento, um bem grande e ensolarado. Eu tenho umas economias, você também… ai, tô tão feliz que a gente finalmente teve essa conversa, tava doida pra te falar isso desde o primeiro dia que te vi. A mamãe e o papai querem marcar a data do noivado!”.

Mario ouviu tudo, calado, apenas fazendo sinais positivos com a cabeça e arregalando levemente os olhos.
E Daniela terminou o discurso emendando que sabia que ele era o homem da vida dela e que o amava muito, muito, muito mesmo.

Dormiram abraçados naquela noite, mas Mario parecia mudo e distante.
No dia seguinte ela foi para casa certa de que o plano havia funcionado.
E até hoje, 4 anos depois, Mario nunca mais deu notícias.

Para ler ouvindo Florence And The Machines – Dog Days Are Over