aos alienados, retrógrados, cretinos e imbecis com quem eu tenho tido a infelicidade de conversar, apenas um desabafo:
como a maioria de vocês, quando eu nasci, o brasil ainda era um país que sofria com a censura e com a ditadura militar. figueiredo era o presidente e faltavam 3 anos até a transição para uma suposta democracia.
ainda criança vi, pela televisão, a primeira eleição da minha vida. e a sequência dessa transmissão histórica, que para mim foram as explicações da minha avó (filha de russos imigrantes, líder de um grupo que praticava benemerência mundo afora, advogada e grande intelectual), sobre o que era um estado de direito. eu tinha muito pouca idade, mas me lembro do esforço dela tentando explicar para uma criancinha sobre os direitos que as pessoas deveriam ter por serem cidadãs de um país, a igualdade e tudo o que mudaria (ou deveria mudar) dali pra frente. também me lembro do meu interesse em compreender o máximo que eu podia absorver e do quanto aquelas palavras ficaram dentro de mim para sempre.
mas a alegria não durou muito. dias depois a nação viu cid moreira anunciar, em rede nacional, a morte do tancredo neves. juro que nunca me esqueci dessa cena.
eu vi sarney, collor, itamar, fernando henrique, lula e dilma subirem no palanque. e eu também vi cada um deles (menos fhc) meterem os pés pelas mãos, depois meterem os pés que meteram pelas mãos em escândalos, novas taxas, novas políticas, mudanças cambiais, indicações de novas cabeças para o banco central e todo aquele resto que todo mundo sabe e está mais que careca de saber no que deu.
os presidentes mudaram, os partidos mudaram e os tempos mudaram. mas, o que nunca mudou, foi o desconto de 28% no holerite de quem trabalha. os impostos absurdos que pagamos por tudo o que consumimos e o descaso com o nosso suor e trabalho duro, sendo jogado ao vento com a inflação que não para de subir graças à injeção de dinheiro que o país recebeu quando os fofinhos de brasília resolveram subir seus salários sem consultar ninguém. quer dizer, comigo eles não falaram, e com você?
você, alienadinho, riquinho, egoistinha, ainda não entendeu o que eu tô falando? então presta atenção: todo santo mês eu preciso tomar um remédio (não disponível no sus) que, com desconto do laboratório e do plano de saúde (porque eu tive a sorte de nascer numa família que me deu oportunidades de estudar, por isso posso me dar ao luxo de pagar um plano de saúde), custa r$ 300.
sabe o que isso quer dizer? que dessa quantia absurda, cerca de r$ 102 vão pro nosso sócio, o governo, aquele mesmo que não garante que eu tenha acesso a um sistema de saúde decente.
e olha que eu não vou nem entrar no mérito dos mais de 80% da bebida alcoólica nem dos alimentos, que recebem tributação entre 16 e 40%.
também não vou entrar no assunto violência, calamidades públicas como deslizamentos de terra e enchentes, as quantias astronômicas que já gastei pagando galvanização dos pneus do meu carro por conta dos buracos da cidade, ipva, iptu, inss, pis, cofins, darf, ir, o preço dos pedágios das estradas e afins.
todo esse dinheiro que o governo arrecada nas minhas costas, faz com que eu deixe de comprar um monte de coisas e tenha muito menos conforto do que eu poderia.
desde as diretas já e do impeachment do collor, eu não via o povo indo às rua.
quer dizer, o povo foi sim às ruas, mas pela parada gay, pela marcha da maconha, pelo ayrton senna ou quando o brasil ganhava alguma copa do mundo.
mas em todo esse tempo nunca, jamais para lutar por seus direitos, no plural. direitos como reinvindicar por justiça, por menores tarifas, por honestidade e por mais respeito da parte dos 3 poderes em relação a nós. enfim, se manifestar e protestar, atos que, por sinal, estão previstos na nossa constituição.
faz 30 anos que eu espero por esse momento. faz mais de 30 anos que eu sonho em viver em um país justo, onde as liderança ouvem o povo e mais, um país onde eu me sinta incluída na tomada de decisões.
faz décadas que o brasil merece mudar e que a gente merece olhar para a nossa bandeira e ter o direito de acreditar nela e ser otimista.
sobre esses “atos de vandalismo”, os únicos sentimento que eu posso manifestar são emoção e euforia.
se você quer saber, estou aplaudindo de pé essas pessoas, esses heróis, que estão dando, literalmente, a cara a tapa por um bem maior. e esse bem maior não são 20 centavos. esse bem maior e um país mais justo para mim, pra você e pros nossos filhos.
em 1789 estava tudo errado na frança. até um dia que o povo cansou e foi lá, tomar a bastilha. e, pensando bem, até que não seria nada mal ver todo mundo invadindo brasilia e dando o mesmo fim que teve maria antonieta para alguns dos nomes que eu citei lá em cima.
“se o preço não baixar, a cidade vai parar”, dizem os manifestantes. e tem mais é que parar mesmo. parar, admirar e reverenciar aqueles que estão nessa guerra por todos nós.
POWER TO THE PEOPLE, PORRA!!!! segunda eu tô lá no largo da batata. e você, vai continuar gritando no facebook e esperando que o mundo mude da tela do seu computador?
#prontofalei
Esse post não tem música. Prefiro fazer o meu minuto de silêncio pela deplorável ação da polícia.